A
educação é uma arte e um desafio que mobiliza pais e educadores
levando-os a inúmeras reflexões. Frente à um contexto paradigmático onde
os valores construídos historicamente estão sendo resignificados, urge
que os pais e educadores repensem sua postura educativa diante das
crianças e jovens, buscando um equilíbrio entre os valores hoje impostos e
os valores por nós construídos.
O resgate do valor social da escola passa pela recuperação de
sua cidadania no espaço público, por sua inter-relação com outras instituições
sociais e pela profissionalização docente.
Ao longo da história, já houve quem pedisse uma sociedade sem
escola, mas, na atualidade, parece que temos escolas sem sociedade. Da
década de 1970 para cá tem havido entre nós uma potencialização significativa
do mercado e uma diminuição imensa da presença do Estado em todas as esferas da
vida civil. Esse fenômeno vem acarretando a despublicização da coisa pública e
a conseqüente privatização da vida.
Pesquisas abalizadas
indicam um crescimento vertiginoso da oferta privada de vagas em nosso sistema
escolar, em todas os níveis, o que assinala uma expansão grandiosa, nem sempre
acompanhada por um aparelhamento de qualidade material e humana de nossos
estabelecimentos de ensino. Situada no âmbito do mercado, a escola perde o seu
referencial de coisa pública e de bem comum, socialmente produzido e que também
deve ser coletivamente desfrutado.
Não é sem razão que a escola passou a ser vista como empresa,
o estudante veio a ser compreendido como cliente e os profissionais da educação
foram trazidos à equiparação a quaisquer outros trabalhadores da iniciativa
privada. O mote “O aluno está pagando, ele tem direito” evidencia essa operação
que se encerra na ênfase ao mercado e na desfocalização da educação como bem de
cidadania. Direitos de cidadania implicam valorização do bem comum, da coisa
pública; direitos cuja gênese está no ato de pagar levam ao individualismo e à
não valorização da convivialidade em processos de sociabilidade, os quais têm
como coração os processos educacionais.
O desafio apresentado a nós, profissionais
da educação, e à sociedade é o de resgatarmos a cidadania da escola como uma
instituição pública. A iniciativa privada, livre para prestar serviços
educacionais, deveria compreender a educação como uma concessão que a sociedade
lhe faz por meio do Estado, mas que ela, educação escolar, não pode e não deve
ser tratada como as demais mercadorias. Isso implica menos ênfase no mercado
educacional e mais destaque para a escola como instituição social.
A par do resgate da cidadania da escola no espaço público,
outro desafio que ela tem de enfrentar é o que diz respeito à inter-relação da
escola com a ampla rede de instituições sociais que a circunda. Relacionar-se
apenas com empresas não nos parece saudável, uma vez que ao lado das
organizações privadas existem as igrejas, os sindicatos, a família, os diversos
órgãos estatais, entre tantos outros que poderíamos lembrar aqui. Se a escola
vir a si mesma como uma instituição social e se articular-se com outras
instituições sociais, então ela terá o que oferecer e receber das esferas
econômica, política e cultural de nossa sociedade. Essa inter-relação poderá
acarretar ganhos que potencializem a emancipação da sociedade brasileira, e não
a sua subjugação ao mercado voraz e individualizante que parece prevalecer em
nossos dias. É o caso de ver a escola menos como empresa entre empresas e mais
como instituição social entre instituições sociais.
Resta à escola implementar programas socialmente
referenciados no sentido de viabilizar a profissionalização do magistério. Aí,
valem a autonomia funcional, a auto-regulação e o monopólio na prestação dos
serviços educacionais. Sem que os professores sejam concebidos como
profissionais, fica difícil empreender uma educação emancipatória e que nos
encaminhe rumo à consolidação de uma sociedade verdadeiramente cidadã,
assentada em mecanismos sociais que garantam mais liberdade, mais justiça, mais
igualdade e mais humanidade a todos que fazemos e sofremos a educação.
A escola precisa ter referencial público, estar
institucionalmente articulada e ser conduzida por profissionais realmente
comprometidos com os destinos da nação brasileira rumo ao desenvolvimento
humano, científico, filosófico, tecnológico e cultural, com vistas para o
alcance da soberania nacional.
Por Wilson Correia
Mestre em Educação
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