Professor: ainda o pior salário
Antônio Gois e Demétrio Weber
Clipping Educacional - Jornal O Globo
O salário dos professores da educação básica no Brasil
registrou, na década passada, ganhos acima da média dos demais
profissionais com nível superior, fazendo encurtar a distância entre
esses dois grupos. Esse avanço, no entanto, foi insuficiente para mudar
um quadro de trágicas consequências para a qualidade do ensino: o
magistério segue sendo a carreira de pior remuneração no país.
Tabulações feitas pelo O Globo nos microdados do Censo do IBGE mostram
que a renda média de um professor do ensino fundamental equivalia, em
2000, a 49% do que ganhavam os demais trabalhadores também com nível
superior. Dez anos depois, esta relação aumentou para 59%. Entre
professores do ensino médio, a variação foi de 60% para 72%.
Apesar do avanço, o censo revela que as carreiras que levam ao
magistério seguem sendo as de pior desempenho. Entre as áreas do ensino
superior com ao menos 50 mil formados na população, os menores
rendimentos foram verificados entre brasileiros que vieram de cursos
relacionados a ciências da Educação — principalmente Pedagogia e
formação de professor para os anos iniciais da educação básica.
Em seguida, entre as piores remunerações, aparecem cursos da área de
religião e, novamente, uma carreira de magistério: formação de
professores com especialização em matérias específicas, onde estão
agrupadas licenciaturas em áreas de disciplinas do ensino médio, como
Língua Portuguesa, Matemática, História e Biologia.
Pagar melhor
aos professores da educação básica, no entanto, é uma política que,
além de cara, tende a trazer retorno apenas a longo prazo em termos de
qualidade de ensino. A literatura acadêmica sobre o tema no Brasil e em
outros países mostra que a remuneração docente não tem, ao contrário do
que se pensou durante muitos anos, relação imediata com a melhoria do
aprendizado dos alunos.
No entanto, o achatamento salarial do magistério traz sérios prejuízos a
longo prazo. Esta tese é comprovada por um relatório feito pela
consultoria McKinsey, em 2007, que teve grande repercussão internacional
ao destacar que uma característica dos países de melhor desempenho
educacional do mundo — Finlândia, Canadá, Coreia do Sul, Japão e
Singapura — era o alto poder de atração dos melhores alunos para o
magistério.
— Não dá para imaginar que, dobrando o salário do professor, ele vai
dobrar o aprendizado dos alunos. O problema é que os bons alunos não
querem ser professores no Brasil. Para atrair os melhores, é preciso ter
salários mais atrativos — afirma Priscila Cruz, diretora-executiva do
Todos Pela Educação.
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin de Leão, concorda com o diagnóstico
da baixa atratividade da profissão. Ele afirma que a carreira de
professor, salvo exceções, acaba atraindo quem não tem nota para
ingressar em outra faculdade. Para Roberto Leão, salário é fundamental,
mas não o suficiente para melhorar a qualidade do ensino.
— Sem salário, não há a menor possibilidade de qualidade. Agora, claro
que é preciso mais do que isso: carreira, formação e gestão.
Priscila Cruz também diz que o salário é só parte da solução:
— É preciso melhorar salários para que os alunos aprendam mais. Mas o
profissional também tem que ser mais cobrado e responsabilizado por
resultados. Não pode, por exemplo, faltar e ficar tantos dias de
licença, como é frequente.
Fonte: http://www.udemo.org.br/
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