O Programa Nacional de Alimentação Escolar –
PNAE consiste na transferência de recursos financeiros do governo federal
aos estados e municípios para a aquisição de alimentos destinados às refeições
das crianças matriculadas na educação básica. Em consonância com a Constituição
Federal, que garante ao educando, entre outros, o direito à assistência à
alimentação, o objetivo do PNAE é “atender as necessidades nutricionais
dos alunos durante sua permanência na escola, contribuindo para o crescimento,
o desenvolvimento, a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes, bem
como promover a formação de hábitos alimentares saudáveis”.
Para fiscalizar e garantir o direito de toda
criança à merenda escolar de qualidade, todo estado e município deve instituir
um Conselho de Alimentação Escolar – CAE. “Os conselhos exercem um papel
de extrema importância, pois têm por responsabilidade acompanhar e fiscalizar
se os estados e municípios executam o PNAE de forma correta e eficiente.
A constituição do CAE é um dos requisitos que os governos estaduais,
distrital e municipais têm obrigatoriamente que cumprir para receber recursos
financeiros do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação – FNDE”, explicou Fátima Menezes,
diretora executiva da Ação Fome
Zero, organização da sociedade civil dedicada à segurança
alimentar e nutricional.
A Ação Fome Zero desenvolve o Projeto
Gestão Eficiente da Merenda Escolar em âmbito nacional e centraliza suas
atividades em torno de duas ideias principais: a valorização de boas práticas e
o fortalecimento do controle da sociedade sobre a execução do PNAE.
“Muitas vezes as pessoas não fazem o melhor porque não sabem o caminho para
isso. Nessa linha, destaca-se a capacitação de conselheiros de alimentação
escolar, gestores públicos e gestores escolares para essa questão”, contou
Menezes.
A capacitação é necessária, segundo Menezes, em qualquer
atividade profissional. “Na alimentação escolar, principalmente, porque é um
programa público abrangente, cheio de particularidades e sujeito a ajustes
constantes”, disse. “Um trabalho de educação alimentar e nutricional só será
bem-sucedido se os gestores educacionais estiverem realmente convencidos de sua
importância”, afirmou.
Para a especialista, garantir uma alimentação
escolar de qualidade é complexo. “A questão alimentar passa, necessariamente,
por uma mudança de cultura em relação ao que se come e ao preparo do que se
come. Não se trata apenas de saber sobre alimentação, mas de alterar a tradição
e a cultura alimentar. E isso pode começar dentro da escola”, disse.
Segundo a nutricionista da Fundação
Ação Criança, Maria Lúcia Martinez, violar o direito à
alimentação de qualidade durante a infância prejudica os hábitos alimentares
que a criança conservará ao longo de sua vida. “A alimentação de uma criança
dentro da escola deve ser criteriosa. Afinal, é na infância que aprendemos a
nos alimentar corretamente. É também dever da escola garantir o acesso à
alimentação de qualidade por ser nesse ambiente que a criança vai criar sua
base alimentar para o decorrer da vida”, explicou.
De acordo com Martinez, a merenda escolar deve ser,
além de nutritiva, do gosto dos alunos. “Ter uma alimentação saudável não
significa que a criança deve comer o que não gosta. A escola deve oferecer
alimentos bem preparados para serem ingeridos com prazer. Dessa forma, o aluno
cria gosto pela comida e, quando chega em casa, passa a querer ingerir
refeições saudáveis e saborosas”, disse.
Ariana Fernandes, nutricionista da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das
Clínicas – FMUSP, ressalta que a alimentação ideal para a criança ainda em
idade escolar deve oferecer nutrientes e energia necessários para o seu
crescimento e desenvolvimento. “A alimentação balanceada começa no café da
manhã que a escola oferece. A criança que não toma café da manhã normalmente
não tem energia e disposição para estudar e fazer as demais atividades da
escola, fica mais desatenta e sonolenta”, completou.
O papel da família
Martinez afirma que, além da escola, também a
família tem papel fundamental na educação alimentar. Para ela, o mais
importante é apresentar à criança todos os tipos de alimentos, mesmo aqueles
que os pais não gostam de comer. “É comum a família definir o gosto da criança.
Mas é importante que ela também conheça os alimentos nutritivos, especialmente
os legumes e as verduras”, disse.
Já Ariana Fernandes recomenda que os pais não
rotulem os alimentos como bons ou ruins ou ofereçam doces como recompensas.
“Dizer para a criança ‘você só vai comer a sobremesa se comer toda a comida’ ou
‘se você tirar nota boa na escola irá ganhar um sorvete’ é o mesmo que afirmar
que doces são mais saborosos que uma refeição. Os pais devem tomar muito
cuidado com a impressão que passam aos filhos”.

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