Ferananda Zauli, O
Poti
Há pelo menos 10 anos
Natal não recebe obras de mobilidade urbana de grande envergadura. Paralelo a
isso, a cada mês 2,5 mil novos veículos são registrados em Natal, ou seja, 30
mil carros por ano começam a circular no sistema viário da capital potiguar. O
resultado é o que se vê nas ruas da capital potiguar: trânsito complicado e
congestionamentos cada vez maiores.
Para tentar minimizar
os problemas enquanto as obras de mobilidade urbana previstas para a cidade não
chegam, a saída tem sido o investimento em pequenas intervenções, como
instalação de rotatórias, implantação de sinalização e reorganização de vias.
"Ninguém espera revolucionar o trânsito de Natal ou acabar com os
engarrafamentos da cidade com essas pequenas intervenções. São medidas
paliativas com prazos de validade estipulados, mas que ajudam muito na fluidez
do trânsito", diz o secretário de mobilidade urbana de Natal, Márcio Sá.
Ajudar ajuda, mas não resolve.
O trânsito de Natal
tem sido motivo deestresse e reclamação de muitos motoristas. Mas, para quem
acha que está ruim, é bom saber que a situação pode piorar, e muito. O doutor
em engenharia de transporte, Enilson Santos, defende que Natal ainda não vive
um caos no trânsito, mas está seguramente caminhando em direção a ele. "Eu
diria que caótico, academicamente e tecnicamente falando, não é um adjetivo que
eu possa usar hoje para definir o trânsito de Natal.
O que a gente poderia
chamar de trânsito caótico é aquele que gera congestionamento em qualquer
lugar, a qualquer hora de qualquer dia. Porque o estabelecimento do caos se dá
quando não se precisa de nada para que exista um congestionamento. Eu diria que
a gente está em um trânsito que revela uma tendência rápida ao congestionamento
sistêmico, que já apresenta sinais preocupantes de congestionamentos em alguns
momentos, mas são todos estatisticamente previsíveis. Mais do que previsível, é
para mim uma certeza estatística que vai haver congestionamento às 18h na
Salgado Filho".
Enilson defende
aideia de que é possível fazer muito com pouco dinheiro e por causa disso já
conquistou a fama de "defensor dos projetos pobres".
"Natal tem uma
experiência, da década de 90, que não foi tão pequena, em que o Detran, com uma
equipe muito pequena, projetou varias intervenções de pequeno porte que deram
uma folga durante muito tempo para o trânsito de Natal. Eu cito duas que podem
ser consideradas geniais: o alargamento da boca da Mor Gouveia quando chega na
Prudente de Morais, que foi um investimento mínimo e permitiu uma maior fluidez
naquela região; e a conexão com possibilidade de tráfego entre a Romualdo
Galvão e a Hermes da Fonseca, na altura da Praça Augusto Leite. Isso desafogou
o tráfego na Hermes porque a Romualdo passou a ser uma opção. Essas
intervenções do Detran, dos vindos de 1995, foram muito significativas para
mostrar que é possível fazer muito com pouco dinheiro", aponta o especialista.
Um exemplo mais
recente de pequena intervenção aplicado em Natal e com resultados positivos foi
a implantação do projeto Via Livre na Avenida Romualdo Galvão. A medida fez com
que o tráfego na via passasse de 4 mil veículos por dia para 10 mil, e a velocidade
média no local passasse de 27 km/h para 40 km/h. A fluidez da Romualdo Galvão
ajudou a desafogar um pouco o trânsito nas Avenidas Prudente de Morais e
Salgado Filho.
Males para o bem
Recentemente a
secretaria de Mobilidade Urbana fechou alguns retornos em avenidas bastante
movimentadas de Natal, como a Amintas Barros, Antonio Basílio e Bernardo
Vieira. A princípio, as reclamações vieram de todos os lados, mas, alguns meses
depois da mudança a população já elogia a iniciativa.
"Eu confesso que
não gostei quando fecharam esse retorno da Bernardo Vieira [em frente ao IFRN]
porque agora a gente tem que ir lá embaixo para retornar, mas, hoje, eu vejo
que a situação do trânsito melhorou muito nesse ponto. Antes, tinha
congestionamento aqui por causa do retorno, hoje não tem mais", disse o
empresário Jonas Souza de Araújo, 39. "Toda mudança que se faz no trânsito
traz críticas, é inevitável, porque por mais que a maioria seja beneficiada com
a mudança sempre terá alguém que será prejudicado, e esse vai reclamar",
disse o secretário de Mobilidade Urbana, Márcio Sá.
Apesar disso, ele diz
que várias intervenções realizadas recentemente em Natal foram aprovadas pela
população e ajudaram a resolver alguns problemas pontuais. "Na Alexandrino
de Alencar com a Rui Barbosa nós sinalizamos a rotatória e reorganizamos o
trânsito, hoje os congestionamentos ali são bem menores. Essa foi uma solução
que se gastou muito pouco e resolveu o problema, mas, claro, gerou reclamações
no início", disse. Ele cita ainda a instalação de uma rotatória na Avenida
Floriano Peixoto, próximo ao Palácio dos Esportes, que diminuiu
consideravelmente o número de acidentes no local.
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