Certamente você já leu uma frase dela na internet. A
chance de você ter lido uma frase atribuída erroneamente a ela é maior
ainda. Clarice Lispector está entre minhas autoras preferidas. Lembro-me
ainda de quando li A paixão segundo GH. Falo dele com a paixão
que me é característica ao abordar nas aulas de literatura os autores
como Machado de Assis, Manuel Bandeira e Drummond. Neste artigo trago
uma espécie d e resumo para você que, como a maioria das pessoas,
limitou-se a conhecer fragmentos da obra dessa que é uma das maiores
autoras da Língua Portuguesa.
Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro... Não sou uma escritora, mas uma sentidora.
Clarice
Lispector nasceu em trânsito, na cidade de Tchetchelnik, na Ucrânia,
enquanto sua família imigrava para a América. Viveu a infância no
Recife, onde conseguiu se naturalizar. Transferiu-se para o Rio de
Janeiro com quase 13 anos. Em 1944, ao completar 19 anos, publicou Perto
do coração selvagem, seu primeiro romance, e deixou a crítica
especializada perplexa diante da singularidade com que explorava o mundo
interior dos personagens, a maneira como penetrava no subconsciente,
fazendo com que toda a ação e a construção do enredo fossem além das
aparências.
Os romances e contos de Clarice
Lispector são marcados por enredos caóticos e intimistas, pois além de
raramente terem uma sequência linear, com começo, meio e fim, o leitor
tem a sensação de estar invadindo os pensamentos, o espaço íntimo e
conflitante da mente de seus personagens. Dessa forma, o narrador desses
romances questiona o ser, o estar no mundo, a razão da existência como
fruto de sua própria escolha.
Além disso, suas
narrativas partem de experiências ou situações psicológicas dos
personagens, ou do fluxo de consciência. Cada personagem traz à tona uma
espécie de monólogo interior e revela seres tensos, sem conseguir se
adaptar a um sistema repetitivo, que lhe nega a individualidade e o
conduz a uma crise existencial e a uma tomada de consciência num
processo de epifania.
Epifania: termo emprestado da religião, que significa "revelação". Expressa o momento traumático que conduz o personagem a um profundo fluxo de consciência, passando a ver o mundo e a si mesmo de outro modo; representa uma mudança de perspectiva.
De
sua vasta produção literária, destacamos: Perto do coração selvagem
(romance, 1944); A cidade sitiada (romance, 1949); Laços de família
(contos, 1960); A maçã no escuro (romance, 1961); A paixão segundo GH
(romance, 1964); A legião estrangeira (contos, 1964); Felicidade
clandestina (contos, 1971); Água viva (romance, 1973); A hora da estrela
(romance, 1977); Um sopro de vida (romance, 1978); A bela e a fera
(contos, 1979).

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