Jéssica Barros, especial para o Diário de Natal
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A praia Ponta de Ponta Negra, um dos principais
cartões-postais da cidade, passa por um de seus piores momentos. O
avanço da maré destruiu vários trechos do calçadão. As obras de
revitalização deixam entulhos espalhados pela praia, com acessos
obstruídos, além de outros problemas já antigos como o grande número de
ambulantes, a falta de banheiros, de iluminação e de limpeza que deixa
modificaram a paisagem de quem passa pela praia, o turismo e a imagem da
cidade.
Com 44 anos de idade e desde criança trabalhando em Ponta Negra, o quiosqueiro Carlos Alberto de Lima diz que a falta de banheiros e as descidas para a praia destruídas tem afastado seus clientes, já que seu quiosque fica próximo a um dos trechos do calçadão destruídos pela maré. Ele conta ainda que o mar vem danificando o calçadão com maior intensidade desde outubro de 2011 e nada vinha sendo feito pelas autoridades competentes. Saka Gomes, dono de uma barraca nas areias da praia diz que os turistas quechegam ficam impressionados com a mudança do cenário de Ponta Negra e que os políticos ainda não se derem conta do mal que essa situação vem causando ao turismo. "Parece que botaram dinamite na praia", diz ele sobre a imagem do cartão-postal da cidade atualmente.
Uma comissão formada por representantes de oito secretarias municipais de Natal esteve em inspeção à praia na manhã da última segunda-feira, onde percorreu toda a extensão do calçadão de Ponta Negra. Secretários e técnicos avaliaram a situação do local que teve seus problemas intensificados após a ação da maré no último final de semana, com ondas que atingiam 2.5 metros de altura e destruíram mais três trechos do calçadão, que atualmente acumula entulhos e alicerces expostos.
Ação judicial determina ações de fiscalização do comércio
Segundo a promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Gilka da Mata, que esteve na inspeção in loco que aconteceu na praia no início da semana, já existe uma ação judicial instaurada pelo Ministério Público de se fazer cumprir por parte da Prefeitura do Natal ações de fiscalização e ordenação da quantidade de ambulantes que atuam na orla. A visita à praia feita pela promotoria tinha como objetivo inicial dar andamento a esse processo de fiscalização, contudo Gilka da Mata diz que a situação encontrada vai muito além disso e são necessárias medidas conjuntas de órgãos e secretarias para que soluções sejam encontradas a fim de reurbanizar, fiscalizar, ordenar e reformar e revitalizar Ponta Negra, processo que será acompanhado pela promotoria do meio ambiente.
Gilka da Mata disse ainda ao Diário de Natal que, devido à série de problemas encontrados pela comitiva que esteve na praia e à complexidade envolvida, foi criado um grupo técnico composto por profissionais de órgãos das secretarias que têm relação com as demandas de Ponta Negra. Os técnicos estão, no momento, elaborando um estudo prévio a ser apresentado à promotoria do meio ambiente no próximo dia 18, contemplando possíveis soluções de curto, médio e longo prazo para os problemas encontrados. Gilka da Mata disse acreditar que apenas uma ação multidisciplinar pode trazer resultados efetivos, não ações isoladas, por isso se buscam soluções que envolvam o máximo de esferas do poder público com ligação direta e indireta com a situação de Ponta Negra.
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) vem reunindo esforços com as demais secretarias para buscar soluções para a situação de Ponta Negra a curto prazo. Estudos mais aprofundados sobre a região da orla em que se encontra a praia e sobre o avanço da maré e seus impactos, fazem parte de um projeto maior de responsabilidade da Secretária Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde). Quanto à Semsur, à primeiro momento, está tentando se buscar uma saída jurídica para sanar os problemas do calçadão.
Obras de reparo
A assessoria de imprensa explica que a empresa licitada foi contratada para realizar obras de reparo em cinco trechos que estavam comprometidos. Com as altas da maré do último final de semana, com ondas de até 2.5 metros, outros três trechos no calçadão desabaram e a Semsur está tentando um aditivo no contrato com a prestadora do serviço para que esses novos trechos afetados sejam assistidos e novos prazos de conclusão da obras sejam dados. À princípio as obras de restauração do calçadão estavam presvitas para serem concluídas no fim de maio, prazo prorrogado para junho e agora, com novos estragos feitos pelo mar, ainda não há prazo estipulado.
Segundo o titular da Seturde, Murilo Barros Junior, as soluções exigem cuidado e estudos mais complexos para que ações imediadas não sejam postas em risco pelo avanço do mar. Murilo Barros diz que medidas à curto prazo que estão sendo feitas pela secretaria são a solicitação de interdição dos pontos mais críticos da praia e manutenção de umtrabalho paleativo até que os estudos fiquem prontos e se possa ver com mais clareza soluções definitivas. A Seturde no momento está vendo uma possível parceria com o Exército para que se inicie a aprtir desta semana a construção de um quebra mar na praia para que o mar não destrua o que vem sendo feito. Para garantir o acesso à praia, Murilo diz que uma opção é implantar escadas de madeira, mas independente de parcerias, as medidas imediatas devem ter início.
Comerciantes sofrem com a nova realidade
Na linha de frente com os turistas e banhistas que frequentam a praia de Ponta Negra, o presidente da Associação dos Barraqueiros (hoje quiosqueiros) da praia, Audemir Henrique diz que a falta de estrutura na praia vem afugentando seus visitantes desde muito antes da erosão do calçadão atingir o nível crítico em que se encontra atualmente. Liderando as reclamações, segundo ele, está a falta de banheiros na praia. Outros problemas são a falta de fiscalização do excessivo número de ambulantes que atuam na área, a falta de iluminação, principalmente próximo ao Morro do Careca, e o serviço de limpeza que, apesar de ser constante, vem deixando a desejar. Audemir Henrique diz que a quantidade de funcionários da limpeza na orla hoje é mais enxuto e não consegue atender a toda demanda.
Segundo o presidente da associação, os donos de quiosque vem tentando junto à Vigilância Sanitária conseguir uma ampliação do espaço dos quiosques para que se possa atender melhor os visitantes e até disponibilizar banheiros para seus clientes. "Se a gente não tiver qualificação e estrutura, o turista vai embora", completa Audemir.
Uma solução que acabou virando outro problema são os "papa-lixo" implantados pela Prefeitura do Natal para que comerciantes da área depositem em locais específicos o lixo de seus estabelecimentos. Contudo, os "papa-lixo", localizados onde a avenida Erivan França e a rua Tivoli se encontram, vêm afugentando as pessoas dos quiosques e hotéis próximos, devido ao mal cheiro, intensificado nos horários do dia em que o sol é mais forte. Joselino, que administra uma pousada próxima ao local diz que nenhum hóspede quer ficar na área da piscina do seu estabelecimento devido ao mal cheiro trazido pelo vento. "A gente quer saber quem é que vai pagar o prejuízo", indaga Joselino sobre à queda de consumo dos hóspedes que saem para apreciar a praia longe do local. Ele reclama ainda que é difícil para os empresários verem seu investimento indo embora.
Nativo de Ponta Negra e desde cedo tirando seu sustento da praia, Audemir Henrique compara a Ponta Negra de hoje com a de 10 anos atrás. "Antigamente diziam que as barracas poluíam a praia, mas nós trabalhávamos com uma faixa de areia de até 20 metros mesmo na maré alta. Hoje o problema é outro", destaca Audemir referindo-se ao avanço do mar e seus efeitos no calçadão e para os banhistas.
Ele diz ainda, que a população nativa e comerciantes da área vinham tentando alertar as autoridades há muito tempo sobre o problema e hoje todos assistem ao quadro já previsto ameaçando destruir a beleza de uma das mais famosas paisagens do Rio Grande do Norte. A situação caótica em que se encontra Ponta Negra interfere não só no turismo e beleza da praia, mas também os prejuízos para diversos núcleos familiares, moradores da Vila de Ponta Negra que dependem da praia para garantir sua subsistência.
Rede hoteleira sente impactos
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no RN (Abih/RN), Habib Chalita, "o cenário é belo, mas falta zelo",o turista percebe isso e os impactos são impossíveis de não serem notados. Ele elenca uma série de problemas, como falta de iluminação, segurança, manutenção do calçadão, limpeza e o número excessivo de ambulantes. "A situação do corredor turístico de Natal como um todo é preocupante. A orla inteira precisa ser revitalizada. Ponta Negra, o nosso cartão-postal, é a imagem do descaso", diz Habib.
O presidente da Abih no RN ressalta que o cenário atual de Ponta Negra e afugenta turistas e moradores da cidade e os efeitos disso são sentidos em efeito cascata, com a diminuição do movimento em bares e restaurante da região, bem como pela rede hoteleira que encara reduções nas ocupações de quartos. "Imagine um turista que fechou um pacote vendo uma imagem exuberante de Ponta Negra e quando chega ao destino encontra sujeira, entulhos, dificuldades de acesso, enfim, encontra todos osproblemas atuais naquela praia. Qual a sensação? Frustração", relata Habib Chalita.
Rosenilda Medeiros, natural de Recife, mas que mora em Natal há muitos anos, diz que a situação de Ponta Negra é uma falta de respeito à população e ao turista. "Nós pagamos impostos para encontrarmos a praia assim?", questiona Rosenilda, que completa " as autoridades em vez de investirem na melhoria dos problemas da praia, estão concentrando esforços em fechar os bares da região. Nós ficamos sem opção de lazer". Rosenilda diz ainda que a cidade inteira está um caos e Ponta Negra seria apenas no reflexo disso, com risco de acidentes por todos os lados, seja pelo acesso à praia obstruído com entulho ou até mesmo no mar com pedras que são arrastadas pela maré alta.
Soluções
Uma possível solução apontada pelos estudiosos seria a engorda da praia, ou seja, trazer de volta a areia que a água do mar leva para regiões mais distantes da beira-mar através de dragas. Venerando Amaro, professor da UFRN e estudioso que acompanhou a comissão de autoridades em visita à Ponta Negra no início da semana à convite do Ministério Público, diz que os problemas existentes na praia vão além de um estudo sobre a região, é necessária uma pesquisa detalhada sobre toda a dinâmica costeira. O grupo de pesquisadores da UFRN do qual Venerando faz parte realiza um acompanhamento mais abrangente sobre o mar e já tentou oferecer seu estudo aos gestores públicos, mas "os tomadores de decisão acharam muito caro" e optaram por uma pesquisa de menor abrangência do que a que vem sendo feita com recursos próprios pelos profissionais da UFRN, diz Venerando.
Quebra-mar é solução para conter avanço
Em matéria do Diário de Natal veiculada no último dia 8, Venerando Amaro disse que a situação da praia é dramática e que combater a erosão é que poderá mudar a geografia da praia. A contenção com uma barreira de pedras, chamada popularmente de "quebra-mar" é a solução mais simples para se evitar problemas de erosão costeira. Mas ao passo que combate a erosão, também tira a beleza da praia. "As intervenções precisam ser feitas, mas é preciso se conhecer muito bem o problema que causa a erosão costeira", disse Venerando Amaro. Ele assegurou que antes de fazer as intervenções é necessário conhecer o processo costeiro.
"Fazer o levantamento das condições hidrodinâmicas, como atuam as ondas, as correntes e os ventos ao longo de pelo menos 14 meses. Teríamos um ciclo, períodos de chuva, períodos secos, e assim por diante" e também frisou a importância de se considerar o viés turístico de Ponta Negra ao se pensar em soluções. "No caso de Areia Preta, a solução encontrada foi um quebra-mar porque lá é uma praia menor. A solução para o problema aqui tem que atender também à questão turística. Ninguém quer Ponta Negra com um quebra-mar na frente, a não ser que isso seja submerso. Existem várias alternativas", conclui o professor da UFRN.
Um grupo de banhistas potiguares que andava pelas areias da praia próximo ao quiosque 12, onde a situação de destruição e entulhos do calçadão, é mais crítica, foi abordado pela reportagem do Diário de Natal para saber como o natalense vem percebendo a situação. Em uma só voz o grupo demonstrou a preocupação e o medo em perder a sua praia. Um ambulante que trabalha na área, Thiago Silva, diz que vários turistas já comentaram e reclamaram com ele sobre o novo cenário que se desenha em Ponta Negra. Thiago diz ainda que não é surpresa que o mar iria avançar, mas a queda no movimento de pessoas que frequentam a praia já é nítido e preocupa os que, como ele, tiram seu sustento do local.
Segundo a assessoria de imprensa da Seturde, já está em andamento um estudo mais complexo e abrangente sobrea orla potiguar e que contribuirá para traçar soluções a médio e longo prazo para boa parte dos problemas de Ponta Negra, como a erosão costeira. Um Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) está sendo feito por técnicos e especialistas contratados pela secretaria municipal para se certificar da dimensão do caso e também de que as intervenções que venham a ser feitas em Ponta Negra não causem prejuízos em outras áreas costeiras.
O titular da Seturde, Murilo Barros Junior diz que esse estudo detalhado, realizado através de um convênio com a Fundação de Apoio ao IFRN (Funcerne), não possui um prazo estipulado de conclusão, mas estima-se que leve de 10 à 12 meses. Após o término dos estudos costeiros deve ser convocada uma audiência pública com o Ministério Público Estadual e demais secretarias e entidades interessadas para apresentar resultados e debater soluções de médio e longo prazo.
Com 44 anos de idade e desde criança trabalhando em Ponta Negra, o quiosqueiro Carlos Alberto de Lima diz que a falta de banheiros e as descidas para a praia destruídas tem afastado seus clientes, já que seu quiosque fica próximo a um dos trechos do calçadão destruídos pela maré. Ele conta ainda que o mar vem danificando o calçadão com maior intensidade desde outubro de 2011 e nada vinha sendo feito pelas autoridades competentes. Saka Gomes, dono de uma barraca nas areias da praia diz que os turistas quechegam ficam impressionados com a mudança do cenário de Ponta Negra e que os políticos ainda não se derem conta do mal que essa situação vem causando ao turismo. "Parece que botaram dinamite na praia", diz ele sobre a imagem do cartão-postal da cidade atualmente.
Uma comissão formada por representantes de oito secretarias municipais de Natal esteve em inspeção à praia na manhã da última segunda-feira, onde percorreu toda a extensão do calçadão de Ponta Negra. Secretários e técnicos avaliaram a situação do local que teve seus problemas intensificados após a ação da maré no último final de semana, com ondas que atingiam 2.5 metros de altura e destruíram mais três trechos do calçadão, que atualmente acumula entulhos e alicerces expostos.
Ação judicial determina ações de fiscalização do comércio
Segundo a promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Gilka da Mata, que esteve na inspeção in loco que aconteceu na praia no início da semana, já existe uma ação judicial instaurada pelo Ministério Público de se fazer cumprir por parte da Prefeitura do Natal ações de fiscalização e ordenação da quantidade de ambulantes que atuam na orla. A visita à praia feita pela promotoria tinha como objetivo inicial dar andamento a esse processo de fiscalização, contudo Gilka da Mata diz que a situação encontrada vai muito além disso e são necessárias medidas conjuntas de órgãos e secretarias para que soluções sejam encontradas a fim de reurbanizar, fiscalizar, ordenar e reformar e revitalizar Ponta Negra, processo que será acompanhado pela promotoria do meio ambiente.
Gilka da Mata disse ainda ao Diário de Natal que, devido à série de problemas encontrados pela comitiva que esteve na praia e à complexidade envolvida, foi criado um grupo técnico composto por profissionais de órgãos das secretarias que têm relação com as demandas de Ponta Negra. Os técnicos estão, no momento, elaborando um estudo prévio a ser apresentado à promotoria do meio ambiente no próximo dia 18, contemplando possíveis soluções de curto, médio e longo prazo para os problemas encontrados. Gilka da Mata disse acreditar que apenas uma ação multidisciplinar pode trazer resultados efetivos, não ações isoladas, por isso se buscam soluções que envolvam o máximo de esferas do poder público com ligação direta e indireta com a situação de Ponta Negra.
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) vem reunindo esforços com as demais secretarias para buscar soluções para a situação de Ponta Negra a curto prazo. Estudos mais aprofundados sobre a região da orla em que se encontra a praia e sobre o avanço da maré e seus impactos, fazem parte de um projeto maior de responsabilidade da Secretária Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde). Quanto à Semsur, à primeiro momento, está tentando se buscar uma saída jurídica para sanar os problemas do calçadão.
Obras de reparo
A assessoria de imprensa explica que a empresa licitada foi contratada para realizar obras de reparo em cinco trechos que estavam comprometidos. Com as altas da maré do último final de semana, com ondas de até 2.5 metros, outros três trechos no calçadão desabaram e a Semsur está tentando um aditivo no contrato com a prestadora do serviço para que esses novos trechos afetados sejam assistidos e novos prazos de conclusão da obras sejam dados. À princípio as obras de restauração do calçadão estavam presvitas para serem concluídas no fim de maio, prazo prorrogado para junho e agora, com novos estragos feitos pelo mar, ainda não há prazo estipulado.
Segundo o titular da Seturde, Murilo Barros Junior, as soluções exigem cuidado e estudos mais complexos para que ações imediadas não sejam postas em risco pelo avanço do mar. Murilo Barros diz que medidas à curto prazo que estão sendo feitas pela secretaria são a solicitação de interdição dos pontos mais críticos da praia e manutenção de umtrabalho paleativo até que os estudos fiquem prontos e se possa ver com mais clareza soluções definitivas. A Seturde no momento está vendo uma possível parceria com o Exército para que se inicie a aprtir desta semana a construção de um quebra mar na praia para que o mar não destrua o que vem sendo feito. Para garantir o acesso à praia, Murilo diz que uma opção é implantar escadas de madeira, mas independente de parcerias, as medidas imediatas devem ter início.
Comerciantes sofrem com a nova realidade
Na linha de frente com os turistas e banhistas que frequentam a praia de Ponta Negra, o presidente da Associação dos Barraqueiros (hoje quiosqueiros) da praia, Audemir Henrique diz que a falta de estrutura na praia vem afugentando seus visitantes desde muito antes da erosão do calçadão atingir o nível crítico em que se encontra atualmente. Liderando as reclamações, segundo ele, está a falta de banheiros na praia. Outros problemas são a falta de fiscalização do excessivo número de ambulantes que atuam na área, a falta de iluminação, principalmente próximo ao Morro do Careca, e o serviço de limpeza que, apesar de ser constante, vem deixando a desejar. Audemir Henrique diz que a quantidade de funcionários da limpeza na orla hoje é mais enxuto e não consegue atender a toda demanda.
Segundo o presidente da associação, os donos de quiosque vem tentando junto à Vigilância Sanitária conseguir uma ampliação do espaço dos quiosques para que se possa atender melhor os visitantes e até disponibilizar banheiros para seus clientes. "Se a gente não tiver qualificação e estrutura, o turista vai embora", completa Audemir.
Uma solução que acabou virando outro problema são os "papa-lixo" implantados pela Prefeitura do Natal para que comerciantes da área depositem em locais específicos o lixo de seus estabelecimentos. Contudo, os "papa-lixo", localizados onde a avenida Erivan França e a rua Tivoli se encontram, vêm afugentando as pessoas dos quiosques e hotéis próximos, devido ao mal cheiro, intensificado nos horários do dia em que o sol é mais forte. Joselino, que administra uma pousada próxima ao local diz que nenhum hóspede quer ficar na área da piscina do seu estabelecimento devido ao mal cheiro trazido pelo vento. "A gente quer saber quem é que vai pagar o prejuízo", indaga Joselino sobre à queda de consumo dos hóspedes que saem para apreciar a praia longe do local. Ele reclama ainda que é difícil para os empresários verem seu investimento indo embora.
Nativo de Ponta Negra e desde cedo tirando seu sustento da praia, Audemir Henrique compara a Ponta Negra de hoje com a de 10 anos atrás. "Antigamente diziam que as barracas poluíam a praia, mas nós trabalhávamos com uma faixa de areia de até 20 metros mesmo na maré alta. Hoje o problema é outro", destaca Audemir referindo-se ao avanço do mar e seus efeitos no calçadão e para os banhistas.
Ele diz ainda, que a população nativa e comerciantes da área vinham tentando alertar as autoridades há muito tempo sobre o problema e hoje todos assistem ao quadro já previsto ameaçando destruir a beleza de uma das mais famosas paisagens do Rio Grande do Norte. A situação caótica em que se encontra Ponta Negra interfere não só no turismo e beleza da praia, mas também os prejuízos para diversos núcleos familiares, moradores da Vila de Ponta Negra que dependem da praia para garantir sua subsistência.
Rede hoteleira sente impactos
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no RN (Abih/RN), Habib Chalita, "o cenário é belo, mas falta zelo",o turista percebe isso e os impactos são impossíveis de não serem notados. Ele elenca uma série de problemas, como falta de iluminação, segurança, manutenção do calçadão, limpeza e o número excessivo de ambulantes. "A situação do corredor turístico de Natal como um todo é preocupante. A orla inteira precisa ser revitalizada. Ponta Negra, o nosso cartão-postal, é a imagem do descaso", diz Habib.
O presidente da Abih no RN ressalta que o cenário atual de Ponta Negra e afugenta turistas e moradores da cidade e os efeitos disso são sentidos em efeito cascata, com a diminuição do movimento em bares e restaurante da região, bem como pela rede hoteleira que encara reduções nas ocupações de quartos. "Imagine um turista que fechou um pacote vendo uma imagem exuberante de Ponta Negra e quando chega ao destino encontra sujeira, entulhos, dificuldades de acesso, enfim, encontra todos osproblemas atuais naquela praia. Qual a sensação? Frustração", relata Habib Chalita.
Rosenilda Medeiros, natural de Recife, mas que mora em Natal há muitos anos, diz que a situação de Ponta Negra é uma falta de respeito à população e ao turista. "Nós pagamos impostos para encontrarmos a praia assim?", questiona Rosenilda, que completa " as autoridades em vez de investirem na melhoria dos problemas da praia, estão concentrando esforços em fechar os bares da região. Nós ficamos sem opção de lazer". Rosenilda diz ainda que a cidade inteira está um caos e Ponta Negra seria apenas no reflexo disso, com risco de acidentes por todos os lados, seja pelo acesso à praia obstruído com entulho ou até mesmo no mar com pedras que são arrastadas pela maré alta.
Soluções
Uma possível solução apontada pelos estudiosos seria a engorda da praia, ou seja, trazer de volta a areia que a água do mar leva para regiões mais distantes da beira-mar através de dragas. Venerando Amaro, professor da UFRN e estudioso que acompanhou a comissão de autoridades em visita à Ponta Negra no início da semana à convite do Ministério Público, diz que os problemas existentes na praia vão além de um estudo sobre a região, é necessária uma pesquisa detalhada sobre toda a dinâmica costeira. O grupo de pesquisadores da UFRN do qual Venerando faz parte realiza um acompanhamento mais abrangente sobre o mar e já tentou oferecer seu estudo aos gestores públicos, mas "os tomadores de decisão acharam muito caro" e optaram por uma pesquisa de menor abrangência do que a que vem sendo feita com recursos próprios pelos profissionais da UFRN, diz Venerando.
Quebra-mar é solução para conter avanço
Em matéria do Diário de Natal veiculada no último dia 8, Venerando Amaro disse que a situação da praia é dramática e que combater a erosão é que poderá mudar a geografia da praia. A contenção com uma barreira de pedras, chamada popularmente de "quebra-mar" é a solução mais simples para se evitar problemas de erosão costeira. Mas ao passo que combate a erosão, também tira a beleza da praia. "As intervenções precisam ser feitas, mas é preciso se conhecer muito bem o problema que causa a erosão costeira", disse Venerando Amaro. Ele assegurou que antes de fazer as intervenções é necessário conhecer o processo costeiro.
"Fazer o levantamento das condições hidrodinâmicas, como atuam as ondas, as correntes e os ventos ao longo de pelo menos 14 meses. Teríamos um ciclo, períodos de chuva, períodos secos, e assim por diante" e também frisou a importância de se considerar o viés turístico de Ponta Negra ao se pensar em soluções. "No caso de Areia Preta, a solução encontrada foi um quebra-mar porque lá é uma praia menor. A solução para o problema aqui tem que atender também à questão turística. Ninguém quer Ponta Negra com um quebra-mar na frente, a não ser que isso seja submerso. Existem várias alternativas", conclui o professor da UFRN.
Um grupo de banhistas potiguares que andava pelas areias da praia próximo ao quiosque 12, onde a situação de destruição e entulhos do calçadão, é mais crítica, foi abordado pela reportagem do Diário de Natal para saber como o natalense vem percebendo a situação. Em uma só voz o grupo demonstrou a preocupação e o medo em perder a sua praia. Um ambulante que trabalha na área, Thiago Silva, diz que vários turistas já comentaram e reclamaram com ele sobre o novo cenário que se desenha em Ponta Negra. Thiago diz ainda que não é surpresa que o mar iria avançar, mas a queda no movimento de pessoas que frequentam a praia já é nítido e preocupa os que, como ele, tiram seu sustento do local.
Segundo a assessoria de imprensa da Seturde, já está em andamento um estudo mais complexo e abrangente sobrea orla potiguar e que contribuirá para traçar soluções a médio e longo prazo para boa parte dos problemas de Ponta Negra, como a erosão costeira. Um Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) está sendo feito por técnicos e especialistas contratados pela secretaria municipal para se certificar da dimensão do caso e também de que as intervenções que venham a ser feitas em Ponta Negra não causem prejuízos em outras áreas costeiras.
O titular da Seturde, Murilo Barros Junior diz que esse estudo detalhado, realizado através de um convênio com a Fundação de Apoio ao IFRN (Funcerne), não possui um prazo estipulado de conclusão, mas estima-se que leve de 10 à 12 meses. Após o término dos estudos costeiros deve ser convocada uma audiência pública com o Ministério Público Estadual e demais secretarias e entidades interessadas para apresentar resultados e debater soluções de médio e longo prazo.

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