De Felipe Gibson para
O Poti
Bastam poucos passos
nos corredores de ovos de páscoa para notá-los. Homem Aranha, Super Homem, Ben
10, Hello Kity, e muitos outros personagens infantis fazem parte do figurino
dos produtos. Apesar dos desenhos diferentes, a maioria traz um atrativo
especial: o brinde. São bonecos, pulseiras e relógios que servem mais para
encarecer o produto do que propriamente para recompensar as crianças. O apelo
comercial e o custo embutido nos brindes são temas antigos de debate entre os
órgãos de defesa do consumidor, que recomendam mais atenção aos pais na hora de
adquirir esse tipo de produto.
As crianças e
adolescentes é o grande alvo das vendas de ovos de páscoa. De acordo com o
presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn),
Geraldo Paiva, os produtos com apelo infantil correspondem a 60% de tudo que é
colocado à venda. "O apelo infantil é grande, e cada vez mais as crianças
têm poder de decisão", avalia o representante da Assurn. Por trás dos ovos
com brindes existe uma série de questões a serem avaliadas pelo consumidor.
A gerente de
relacionamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Karina
Alfano, cita os principais. Além do encarecimento exagerado do ovo, existem
casos de propaganda enganosa e falta de faixa etária nos brinquedos. "Um
dos direitos básicos do consumidor é a informação. Se as informações não forem
claras, esse direito está sendo negligenciado", diz Alfano, exemplificando
casos em que as pessoas pensam estar comprando uma coisa ao ver a embalagem,
mas quando abrem se surpreendem. "Como se na embalagem tivesse um boneco
colorido, e dentro há um brinde amarelo", explica.
Karina Alfano
aconselha prevenção ao consumidor. "Essa questão fica complicada no
pós-venda. O importante mesmo é se prevenir", afirma. Se o pai estiver em
dúvida quanto ao produto deve pesquisar na internet sobre aquele determinado
ovo de páscoa, ou procurar os representantes comerciais das marcas nos
estabelecimentos. "O consumidor tem que avaliar bem se vale a pena comprar
o produto com o brinde", reforça.
Em pesquisa publicada
no ano passado, o Idec identificou sobrepreço exagerado nos produtos com
brindes. A partir dos resultados, o instituto constatou na época que o
consumidor paga cerca de R$ 23,53 em um ovo de 180 gramas com brinde. Já um ovo
sem brinde, porém com 60 gramas a mais, custa em torno de R$ 22,02. Na conta proporcional,
o ovo com brinde é 42% mais caro. "O que se paga pelo brinde não é o que
ele vale", diz Karina Alfano.
Comparando os ovos de
páscoa com um chocolate normal, a diferença foi ainda maior. A barra de 170
gramas custava R$ 4,80, um custo quatro vezes menos do que o cobrado pelo ovo.
"É uma diferença pontual devido ao valor agregado e a simbologia da
data", conclui a gerente de relacionamento do Idec.
Para o coordenador
geral do Procon/RN, Araken Farias é importante dar prosseguimentos às discussões
relacionadas ao apelo da publicidade para crianças. "Isso prejudica a
relação de consumo", afirma. O coordenador conta queexiste um projeto de
lei tramitando há anos na Câmara dos Deputados que trata exatamente da extinção
das propagandas infantis. De acordo com Farias ainda não há uma legislação
específica sobre o assunto.
Número dos ovos não
corresponde ao tamanho
Uma outra pesquisa do
Idec mostra que os ovos de páscoa são numerados de acordo com o critério
individual de cada fabricante, sem uma relação direta com a quantidade de
chocolate que o produto possui. No levantamento, o instituto verificou, por
exemplo, que o número 20, dependendo da marca, pode conter 75 gramas a menos de
chocolate. A diferença aparece na espessura do chocolate, que não costuma ser
notada.
De acordo com o Idec
as empresas alegam que o número do ovo tem correspondência com a altura da
forma utilizada na fabricação, mas esse argumento não se comprova quando
considerados ovos estilizados, como o Batom, por exemplo. "A indicação dos
números nos ovos, da maneira que está, pode induzir o consumidor ao erro na
hora da compra", explica Karina Alfano.
Após a constatação o
Idec enviou um pedido de critério de padronização aos fabricantes. A Associação
das Indústrias da Alimentação (ABIA) e o Inmetro (Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia) também receberam solicitações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário