Ricardo Araújo
repórter
"Ela disse que
eu sou desonesto. Mas eu vou provar que sou honesto!". Foram estas as
palavras proferidas pelo desembargador Rafael Godeiro Sobrinho, para se
defender das acusações de Carla Ubarana. A ex-chefe do Setor de Precatórios do
Tribunal de Justiça disse, em depoimento ao juiz da 7ª Vara Criminal, que os
desembargadores Rafael Godeiro e Osvaldo Cruz eram co-autores do esquema de
desvio de recursos dos precatórios e compartilhavam dos valores subtraídos pela
servidora do Tribunal de Justiça. Rafael Godeiro negou todas as declarações de
Ubarana e se disse tranquilo e sereno e, ainda, disposto a quebrar o seu sigilo
bancário para comprovar que sua movimentação financeira corresponde aos seus
ganhos como desembargador.
"Eu quero uma acusação específica e não
genérica, como ela fez. Eu quero que ela diga que eu recebi tanto, num horário
tal e, inclusive, de qual precatório foi desviado", afirmou o magistrado
refutando as declarações de Carla Ubarana feitas sexta-feira passada ao juiz
titular da 7ª Vara Criminal, José Armando Ponte Dias Júnior. O desembargador
Rafael Godeiro definiu as acusações da ré como "inconsistentes" e
declarou que toda a população natalense reconhece sua lisura em relação aos
trabalhos que desenvolve como juiz há 43 anos. Para comprovar sua honestidade,
ele citou que durante as eleições no modelo pré-urna eletrônica, era
responsável pela fiscalização das eleições em todo o estado e nenhuma
irregularidade ocorreu.
O magistrado, que ocupou o cargo de presidente
do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte dois anos do início dos
desvios dos recursos no Setor de
Precatórios ter teoricamente começado, disse que está disposto a colaborar com
as investigações. "Estou disposto a tudo. Vou me adiantar e mostrar todas
as minhas cinco últimas declarações de Imposto de Renda. Além disso, vou abrir
o sigilo da única conta bancária que mantenho que é no Banco do Brasil",
reiterou. Ele disse, ainda, que todos os bens do qual é dono foram adquiridos
antes dele ter sido empossado presidente do Tribunal de Justiça entre 2009 e
2011.
"Se eu recebi dinheiro desviado, é muito
simples verificar. Sugiro que o Ministério Público analise as guias de
pagamento que eu assinei", defendeu-se o magistrado. Questionado sobre o
trabalho desenvolvido por Carla Ubarana à época da sua gestão como presidente,
Godeiro confirmou que confiava "excessivamente" em Ubarana e que,
inclusive, o desempenho das suas funções como responsável pelo Setor de
Precatórios foi elogiada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em relatório.
"A confiança era tanta que a desembargadora Judite Nunes só desconfiou das
irregularidades após mais da metade do seu mandato como presidenta",
destacou.
O magistrado ressaltou que somente na semana
passada, uma portaria regulamentando os pagamentos dos precatórios foi
publicada. "Não havia controle e Carla Ubarana foi com muita sede ao
pote", ressaltou Rafael Godeiro quando questionado sobre os motivos que
levaram ao desmantelamento do esquema pela atual presidenta do Tribunal de
Justiça, desembargadora Judite Nunes, no início deste ano. Além disso, Rafael
Godeiro creditou a atitude de Carla por
ele ter sido o responsável pela exoneração de três irmãos dela que ocupavam
cargos comissionados no TJ à época da sua presidência, ao fato de ter sido apontado
como um dos co-autores do esquema corruptivo.
"Ela fez isso
como uma forma de retaliação da atitude que tomei anos atrás. Mas estou
tranquilo e calmo. Espero que os culpados sejam punidos", enfatizou o
desembargador Rafael Godeiro. Indagado se foi omisso em relação à fiscalização
dos processos de pagamentos de precatórios durante seu mandato como presidente
do TJ, ele foi enfático. "Eu posso ter pecado por omissão e negligência.
Assim como a desembargadora Judite Nunes pecou mais da metade do seu mandato",
refletiu. O desembargador Osvaldo Cruz, também citado por Carla Ubarana em
Juízo na sexta-feira passada, foi procurado pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE
mas não respondeu às tentativas de contato telefônico. Os desembargadores Caio
Alencar e Judite Nunes estão viajando e não foi possível contato telefônico.
Oswaldo Cruz coloca
todos os dados à disposição
Em nota encaminhada à
imprensa na madrugada de ontem, o desembargador Oswaldo Cruz, repudiou as
acusações feitas por Carla Ubarana durante a Audiência de Instrução realizada
na 7ª Vara Criminal sexta-feira passada. Além disso, fez críticas à atuação do
Ministério Público Estadual na investigação das irregularidades.
Veja abaixo o
conteúdo da nota assinada por Osvaldo Cruz.
Através dessa nota de
esclarecimento e repúdio, estando absolutamente surpreso, venho dizer que sou
magistrado, juiz de direito, há mais de 35 anos e nunca me envolvi em atos da
natureza dos imputados a minha pessoa pelo Ministério Publico Estadual na noite
de hoje, 30 de março corrente.
O Ministério Público,
atuando no seu mister de órgão investigador, no seu papel de parte nessa
contenda judicial, portanto, deliberadamente parcial em suas ilações, fez
referências ao meu nome como co-autor de supostas infrações perpetradas no
âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, do qual tenho a
honra de pertencer como membro da magistratura de carreira, lá empossado por
merecimento, há quase duas décadas.
Pois bem,
utilizando-me do mesmo instrumento com o qual insistem em denegrir minha
imagem, esclareço que nomeei a servidora de carreira Carla Ubarana, concursada
e efetiva, para exercer cargo de direção na Secretaria de Precatórios daquela
Entidade, aclarando que à época da minha assunção à Presidência dessa Corte, a
mesma já ocupava cargo em comissão junto
a Secretaria de Recursos Humanos.
Até o início de
janeiro último, o que EU sabia sobre a servidora era que desempenhava a
contento suas funções, tendo inclusive sido elogiada pelos membros do Conselho
Nacional de Justiça quando da intensa fiscalização ocorrida perante o
Judiciário Estadual nos anos que se sucederam a minha gestão.
Tenho enorme apreço
por sua família, sem, no entanto, ser íntimo de sua pessoa a ponto de tomar
conhecimento sobre atos de sua vida ou saber dos eventuais bens que lhe
pertenciam.
De modo que é
impossível a minha participação na intitulada fraude!!!!
À frente da
Magistratura Estadual somente trabalhei em prol dos jurisdicionados, servidores
e magistrados, como convém a um desembargador presidente. Injustas, portanto,
quaisquer ilações realizadas no afã de macular a minha honra.
Lamento profundamente
ter sido envolvido, seja pelos então acusados, como dispôs o Ministério
Público, seja pelo próprio Parquet.
Com todo o respeito
que tenho pela Justiça, evidentemente que me defenderei se acusado formalmente
for, o que até o presente momento, não ocorreu, nem na seara administrativa nem
em qualquer outra.
Não me envolvi, não
cometi nenhum ilícito funcional ou administrativo em conjunto com quem quer que
seja.
E, confiante nessa
mesma Justiça, aguardo que os fatos verdadeiros sejam esclarecidos, demonstrando
que não cometi nem participei de nenhum suposto ilícito com ninguém!
Desde já, coloco à
disposição das autoridades competentes todos os meus dados financeiros,
fiscais, documentais, telemáticos e telefônicos.
Desembargador Osvaldo
Cruz
Fonte: Tribuna do Norte
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