Margareth Grilo
repórter especial
A três dias do início do ano letivo, próxima quinta-feira, 1º de março, ainda pairam muitas incertezas nas escolas das redes municipal, de Natal, e estadual de Educação. Há riscos que ainda não foram dissipados, como o indicativo de greve dos professores da rede municipal, que têm assembleia geral na quarta-feira, 29, e ameaçam não entrar em sala de aula, caso as reivindicações da categoria não sejam atendidas. Há promessas não cumpridas, como a contratação de professores para suprir o déficit nas duas redes e as reformas e preparação dos prédios para receber os alunos, e há dúvida se elas virão ainda no primeiro semestre. Para os pais a preocupação é a de garantir vagas para matricular seus filhos.
Alberto Leandro

A escassez de vagas é apenas um dos problemas. As soluções definitivas ainda parecem distantes
Embora baseado apenas em dados preliminares, o secretário municipal de Educação, Walter Fonseca, arrisca dizer que "quase não haverá excedente" na rede municipal. No entanto, as demandas registradas pelos Conselhos Tutelares dão conta de que a realidade não é bem essa. Até ontem, 579 pais já haviam procurado os Conselhos Tutelares das zonas Oeste e Norte, na esperança de garantir escola para os filhos. A maior parte procura vaga na rede municipal.
Fontes da TRIBUNA DO NORTE na SME revelam que somente no bairro do Planalto, zona Oeste de Natal, onde não há escolas, nem municipal, nem estadual, a demanda reprimida - ou seja, de crianças fora da sala de aula - chega a, pelo menos, 1.000 - a maioria necessitando de vaga nas séries inciais da educação infantil e do ensino fundamental. Em 2011, a Prefeitura de Natal foi obrigada, por não suprir toda a demanda, a contratar, na rede privada, 4.862 vagas por meio do Programa Escolas para Todos (PPET).
Este ano, segundo Valter Fonseca, os dados computados, até a quinta-feira, 23, quando concedeu entrevista à TRIBUNA DO NORTE, apontam apenas 142 excedentes, na educação infantil. Já no ensino fundamental, segundo Fonseca, quase duas mil vagas ainda não foram preenchidas.
Ao mesmo tempo, que revela a possível inexistência de "déficit", o titular da Educação mostrou números que sinalizam para o encolhimento da rede municipal, de 55 mil alunos, em 2011, para 49 mil alunos, agora em 2012 - 6 mil matrículas a menos. Ele não soube explicar as razões da retração. "Certamente", disse ele, "foi por motivos vários".
A mudança de nível do 9º ano para o 1º ano do ensino médio é uma das razões, segundo ele. "Mas outros alunos", disse ele, "podem ter procurado a rede estadual e privada ou outra opção, que não sei qual poderia ser". A redução, disse ele "é uma coisa significativa" e "mostra o compromisso que a prefeitura está tendo com a Educação". Ele disse que, em 2011, na educação infantil houve uma absorção bastante acentuada, com a contratação do PPET.
Fonseca reconheceu que os números podem mudar. "Esses dados que estou apresentando é o que está registrado hoje [até a quinta-feira, 23], mas podemos ainda ter alteração". As informações, segundo o secretário, ainda estão sendo checadas, e serão divulgadas nos próximos dias, mas "pelos dados preliminares é provável que não precise contratar o PPET, mas se for necessário é para muito pouco".
O titular da Educação disse que, apesar da 'inexistência de excedente', a prefeitura vai abrir matrículas no PPET e que elas devem ser finalizadas até 15 de março. Em janeiro, o secretário chegou a anunciar que a demanda reprimida ficaria em torno de 5 mil crianças, baseado no número de matriculas no PPET. Na entrevista a TN ele não soube explicar para onde migrou esse contingente de crianças.
A última escola inaugurada pela Prefeitura de Natal foi a Noilde Ramalho, em maio de 2011, na comunidade da África, na Redinha. A escola tem capacidade para 360 alunos entre 6 e 14 anos de idade, do Ensino Fundamental, do 1º ao 5º ano. Na educação infantil, o mais novo prédio é o do CMEI Fernanda Jales, no bairro Pitimbu, com 240 vagas, nos quatro níveis e berçário. Nas regiões Oeste e Norte da cidade, a SME está construindo mais cinco CMEIs, sendo dois do tipo "B", que oferta 240 vagas e três do tipo "C", para 120 alunos.
Fechamento de creches
é problema
O Conselho Tutelar da
zona Oeste cita como os bairros mais problemáticos os do Planalto, Cidade Nova
e Felipe Camarão, onde a demanda reprimida é muito alta. Mas há problemas
também no Bom Pastor. "Este ano, o bairro perdeu quatro creches
municipais, e isso significa menos crianças sendo atendidas", afirmou
o conselheiro Luís Carlos de Melo. Estão fechadas as creches Criança Feliz,
'Rosas e Orquídeas', Santa Esmeralda e Arco-íris. Esta última foi uma das
unidades recebidas do Meios. A única que funciona é o CMEI Frei Damião.
No bairro, mais de 400
crianças estão ameaçadas de ficar sem escola, segundo a Associação dos
Moradores e Amigos do Bom Pastor. Segundo Luís Carlos a demanda que chega
aos conselhos é apenas daqueles pais mais esclarecidos. "Com
certeza", disse ele, "o número de crianças fora da escola é
três, quatro vezes maior".
No início de março, as
demandas, segundo informou, serão encaminhadas ao Ministério Público Estadual.
O Conselho também fará a notificação do secretário municipal de
Educação. Nesse região, 79 pessoas já procuraram o Conselho Tutelar
para reivindicar vaga, a maioria na rede municipal. Em 2011, o conselho
registrou 457 demandas. O relatório foi encaminhado ontem ao Comdica
[Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente], Prefeitura de
Natal, Vara da infância e MPE.
Na zona Norte, segundo
a conselheira tutelar Meire Aquino Motta, a demanda por escola é muito
alta. A maioria das escolas, segundo ela, tem uma lista de excedente, que é
enviada para as secretarias estadual e municipal de educação.
"Acredito que tem mais criança fora que dentro da sala de aula". De
janeiro até a última sexta-feira, o Conselho havia encaminhado, à pedido
de pais, perto de 500 requisições para as escolas municipais e estaduais.
A prevalência maior,
segundo a conselheira, é para a rede municipal. Segundo Meire, assim que o
relatório for finalizados eja encaminhado para a promotoria da Educação,
relatando os casos que não tiveram resposta da SME.
Para a coordenadora
geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do RN (Sinte), Fátima
Cardoso, soa, no mínimo, estranho os dados da SME de que "quase não
há excedente". Fátima Cardoso lembrou que esses números são
reflexos de apenas uma realidade: as escolas fixam em suas portas cartazes
de que "não há mais vagas" e os pais vão embora, voltam pra casa
sem fazer o registro da necessidade de vaga". Por isso, disse ele, se
tem dados altamente subestimados.
"De certa
maneira", disse a sindicalista, "a secretaria está escondendo, maquiando
essa demanda reprimida". São poucas as escolas, segundo ela, que
fazem a relação de excedentes. Uma fonte da TN na Secretaria confirmou que
a quantidade de pais que fazem registro de falta de vaga, seja na SME ou
nas escolas.
Fátima Cardoso disse
ainda que "não conhece essas duas mil vagas que o secretário
anuncia". "É, no mínimo, estranho porque até ano passado o município
estava com excesso de alunos em sala de aula", afirmou. Em salas que
deveriam ter 30, tinham até 37 alunos, na maioria das escolas.
"Acredito que
esse encolhimento da rede é fruto da desconfiança e do descrédito dos
pais quanto a educação municipal, pela precariedade que se
encontra".
Proposta do município
não agrada ao Sinte/RN
Em assembleias na
última quarta-feira os professores das redes municipal de Natal e da rede
estadual decidem se levam adiante o indicativo de greve para o dia
1º de março. Na rede municipal, onde há mais probabilidade de greve, o
Sinte/RN briga pelo pagamento de 1/3 de
férias, de forma
integral, em folha suplementar ainda, este mês, e por um reajuste de
22,22%, baseada na lei Federal de nº 11.738/08, a lei do piso
nacional.
A proposta da SME,
segundo o titular da pasta, Walter Fonseca, é de pagar em duas etapas,
primeiro ao professores de educação infantil, em abril; e do ensino
fundamental, em maio. Já a correção salarial seria de 6%, mais 4% de aumento
real, aplicado em três parcelas [março, abril e maio].
"Estamos
dialogando intensamente com o Sinte", disse Fonseca, adiantando que, na
última reunião, após o carnaval, a proposta foi atualizada "no limite
do que o município hoje pode oferecer". O titular da educação disse
que espera dos professores "bom senso, responsabilidade e, sobretudo,
o compromisso com a educação para termos um ano letivo de
qualidade".
A coordenadora do
Sinte-RN, Fátima Cardoso, disse que falta ao município e ao Estado um projeto
de Educação e cobrou respostas às reivindicações. Ela lamentou a falta de
diálogo com a secretaria estadual de Educação, Betânia Ramalho. A última
audiência com o Sinte foi em agosto do ano passado. "No caso do
município, o Plano Municipal de Educação deveria ter sido revisado em
2010, e não foi. No caso do Estado, não temos sequer um plano estadual de
Educação", analisou".
No âmbito estadual,
a maior luta será pela implantação do piso nacional e convocação dos
3.500 novos professores, aprovados no concurso de 2011. A reportagem da
TRIBUNA DO NORTE tentou falar com a secretária Betânia Ramalho, mas ela
não atendeu ao pedido de entrevista.
Professores reclamam
das más condições
Ao passo que
participam da Jornada Pedagógica, encerrada na última sexta-feira, os
professores municipais reclamam da desvalorização e da falta de condições
nas escolas. Em muitas, as pequenas reformas sequer começaram, em outras
estão sendo iniciadas, mas não devem ser finalizadas até 1º de março.
"As escolas, do Estado e do município", criticou Fátima Cardoso,
"estão sucateadas. Nenhuma passou por reforma e as condições são
insalubres, as piores possíveis, na maioria delas".
No município, a exceção
fica para os prédios novos dos CMEIs. Na rede estadual a promessa é de
reformar, pelo menos, 84 escolas da rede, e enviar 100 novos ônibus, que
já estão estacionados no pátio do Centro Administrativo para os
municípios. Mas a previsão é de as obras e a entrega dos veículos só
aconteçam a partir de março. Os ônibus escolares só serão entregues em
solenidade no dia 8 de março, na presença do ministro da Educação, Aloízio
Mercadante.
Na rede municipal, o
secretário Walter Fonseca garantiu que em parte das escolas, as obras estão
sendo intensificadas e em outras a equipe de engenharia está verificando a
necessidade de reparos. Nas 146 unidades em funcionamento, 35 funcionam em
prédios alugados. Ele reconheceu que, em muitas, as condições são
precárias. O tempo de férias, segundo ele, "ficou muito curto",
mas os reparos estão sendo feitos "em ritmo mais acelerado".
"Estamos
trabalhando", adiantou Fonseca, "para oferecer um ano letivo com
o mínimo de problemas". Segundo ele, os processos de licitação para aquisição
de merenda, equipamentos, fardamento escolar, material de expediente e de
limpeza e kit escolar já estão praticamente fechados.
Mas ainda não há
previsão de quando esses materiais começam a ser fornecidos às escolas.
Em 2011, o município
abriu licitação de R$ 1,2 milhão, para manutenção das 72 escolas em
funcionamento e está, segundo o secretário, providenciando um aditivo, que
abrirá - ainda sem data prevista - mais R$ 750 mil em crédito. No caso dos
CMEIs, o gasto em 2011 foi de R$ 400 mil e um aditivo deve ser aberto
"no mês de março ou abril".
Na rede estadual, as
obras ainda não foram iniciadas e só devem começar em março, com a
abertura do Orçamento Geral do Estado (OGE). Os diretores já estão
desanimados. "O que ouvimos sempre, desde o ano passado, é que estão
preparando o processo, que está em licitação, e nunca sai disso",
reclama a diretora da Escola Estadual Winston Churchill, Maria Eliane
Silva de Carvalho. A escola está na lista da SEEC das quatro maiores
que serão reformadas, ao lado do Atheneu, Anísio Teixeira e Varela Barca.
Em nenhum dos casos o processo saiu da fase licitatória. A previsão é de
investir R$ 1,5 milhão em cada escola.
Fonte: Tribuna do Norte
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